A
Contabilidade Ambiental pode ser uma aliada na hora de valorar não só
os gastos ou investimentos em programas na área como também os
benefícios financeiros dessas ações
A grande preocupação com
as questões ambientais e com o impacto dos atos individuais e das
atividades empresariais no meio ambiente trouxe consigo a maior
conscientização de que todos são responsáveis pela preservação da
natureza. Isso inclui os contadores, os técnicos em contabilidade e os
demais profissionais envolvidos com questões fiscais dentro das empresas
privadas e públicas.
Considerada uma ramificação da Ciência
Contábil já existente, o Contabilidade Ambiental tem o papel de
identificar, mensurar e avaliar toda a interação da empresa com o meio
ambiente do ponto de vista monetário. Em outras palavras, ela busca
encontrar números para expressar como a interação das empresas com a
natureza se reflete no seu patrimônio.
O contador e professor de
Ciências Contábeis da Unisinos Ernani Ott explica que demonstrar
preocupação com o que está à volta é importante para todas as
organizações, mas salienta que a avaliação se torna questão de vida ou
morte para aquelas que ofereceram ou ainda oferecem algum risco, como
por exemplo, uma empresa poluidora.
Uma das dificuldades em
desenvolver a Contabilidade Ambiental em todo seu potencial, no entanto,
é o fato do assunto "ser encarado como unicamente gerencial", determina
a professora das disciplinas de Contabilidade Ambiental e Social do
curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), Marivane Vestena Rossato. "A avaliação dessa interação entre
empresa e natureza não ocorre para fins de evidenciação, publicação e
tomada de decisão", avalia Marivane.
A divulgação de um balanço
ambiental esbarra na falta de legislação específica e na demora para sua
inclusão entre as Normas Brasileiras de Contabilidade. Sendo assim,
aquelas empresas que decidem aderir ao balanço ambiental normalmente o
fazem dentro do balanço anual de contas, colocando essas informações
dentro de outro item obrigatório, com mais detalhes em Nota Explicativa.
O
mais comum, adverte o professor Ernani Ott, é que o impacto ambiental
entre na contabilidade apenas quando a empresa é multada por infrações
cometidas, isto é, quando sai perdendo. Nessa situação, ela acaba
gerando um passivo, uma dívida, e não há como não repercutir no balanço
da empresa.
Contudo, explica Ott, o investimento ambiental pode
ser mais do que um gasto. "Uma empresa que se dá conta do desperdício de
material e resolve industrializá-lo e transformar em produto a ser
vendido, está reaproveitando e lucrando. Esse é apenas um dos casos em
que a preocupação ambiental se torna um ativo", exemplifica.
Ainda
que informalmente, a contabilidade ambiental colabora para pôr o
ambiente de negócios brasileiro dentro daquilo que os investidores,
principalmente estrangeiros, buscam. Um dos ativos mais importantes é a
adesão ao Sistema de Gestão Ambiental, que consta nos balanços de todas
aquelas que o desenvolvem através da publicação do investimento feito
para sua implementação. Ott lembra que tendo certificação certamente a
empresa terá também vantagens competitivas em relação a outra empresa,
além de agregar valor à própria imagem. "Porém, ainda não se consegue
medir quanto é decorrente do investimento ambiental", diz Ott,
salientando que esse talvez seja o grande desafio da Contabilidade
Ambiental.
CFC estuda norma que regulamente parâmetros
A
avaliação da qualidade das informações ambientais nos balanços e
demonstrações contábeis e de resultados fica prejudicada pela falta de
parâmetros nacionais. A esperança está na aprovação de uma nova Norma
Brasileira de Contabilidade (NBC), em análise pelo Conselho Federal de
Contabilidade (CFC).
Apesar da NBC T 15 "estabelecer
procedimentos para evidenciação de informações de natureza social e
ambiental com o objetivo de demonstrar à sociedade a participação e a
responsabilidade da entidade", ela não define conceitos para a
contabilização dos eventos, afirmam os especialistas. Já a nota ainda
não aprovada pelo CFC define conceitos e critérios para reconhecimento,
classificação, mensuração e divulgação dos eventos e transações que
refletem as interações da entidade com o meio ambiente.
A
professora universitária Marivane Vestena Rossato colaborou
informalmente com as atividades do Grupo de Estudos de Informações de
Natureza Ambiental responsável por elaborar a minuta (instituído pela
Portaria CFC nº 76/08). A espera para que a nova norma entre em vigor já
dura mais de cinco anos. A minuta passou por processo de audiência
pública e depende da aprovação do órgão para começar a valer.
A
nova norma ambiental, conforme a minuta, será aplicada a todas as
atividades econômicas que causem ou venham a causar, direta ou
indiretamente, algum tipo de impacto ao meio ambiente, que poderá ser de
natureza positiva ou negativa. Além de um avanço técnico, ela renova as
esperanças após a revogação da Norma e Procedimento de Auditoria (NPA)
nº 11.
O documento, anulado em 2011, estabelecia "os liames entre
a contabilidade e o meio ambiente, tendo em vista que, como as demais
ciências, incumbe-lhe, também, participar dos esforços em favor da
defesa e proteção contra a poluição e as agressões à vida humana e à
natureza".
Projetos com impactos positivos ganham espaço
Aquelas
empresas que desejam investir em programas sociais e ambientais
eficientes podem começar pela criação de um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA) e a desenvolver iniciativas que beneficiem a comunidade e
vegetação no entorno.
O SGA é fundamental para as organizações
que desejam aplicar a ABNT NBR ISO 14001. Porém, tão importante quanto
investir em gestão ambiental é ter certeza do impacto positivo e dar
visibilidade às ações. Por isso, um grande número de companhias buscam o
auxílio de organizações não governamentais e de negócios sociais
especializados para colocar em prática seus projetos.
Notando um
interesse cada vez maior do mundo corporativo em realizar ações que
auxiliem a vizinhanças, mas que não sabem por onde começar, Mariana
Madureira e a sócia Marianne Costa decidiram criar a Raizes
Desenvolvimento Sustentável. Elas também auxiliam na implementação de
projetos de empresas que não contam com equipe interna para fazê-lo.
Tudo
começou em 2006, com foco no turismo, área de formação das duas.
Depois, se deram conta de um novo nicho de mercado: o de projetos
empresariais. A Raizes se envolve no diagnóstico, gerenciamento,
execução e acompanhamento de projetos por todo o território nacional,
passando pelo enraizamento comunitário a fim de garantir a durabilidade
do projeto.
Atualmente, grandes corporações como Vale do Rio
Doce, Grupo Galvão, Toyota e Tam, além de pequenas e médias empresas,
estão entre os clientes da Raízes do Brasil. No caso da Toyota, o
planejamento focou na sustentabilidade financeira e captação de recursos
do Instituto Arara Azul, de Mato Grosso do Sul, entidade apoiada há
anos pela Fundação Toyota.
Já o projeto contratado pelo Grupo
Galvão, por exemplo, teve como escopo a criação de um plano colaborativo
de uso do espaço para a Associação Multicultural e Educacional (Ame) de
São Bento do Norte, no Rio Grande do Norte, que ganhou um espaço para
gerir ações em prol do município. A iniciativa foi uma contrapartida
social pela construção de parques eólicos na região.
Mariana
explica que, muitas vezes, o desenvolvimento desses projetos é uma
condição obrigatória. "Mas também cresce a consciência de que, além do
ganho de imagem na sociedade mais geral, é preciso conseguir ter um
trabalho harmônico na comunidade local", afirma.
As empresas de
contabilidade também estão atentas e aderem à onda verde. A Rockembach,
que atua na área de Auditoria, em Porto Alegre, foi a primeira do ramo a
entrar no programa Carbon Free. A organização está financiando o
plantio de árvores nativas de mata atlântica para a compensação total
das emissões de gases de efeito estufa.
Fonte: Jornal do Comércio - RS
Disponível em: http://www.fenacon.org.br/noticias-completas/2517
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