10 de jun. de 2014

Crédito fica mais raro para microempreendedores

São Paulo - Adriano Bernardo é dono de uma indústria de confecção de fantasias que desde 2002, prepara roupas para desfiles de carnaval, eventos e festas. Ele tem clientes em todo o Brasil e também no exterior e fatura entre R$ 20 mil e R$ 30 mil mensais. Ainda assim, não consegue crédito como pessoa jurídica para ampliar os negócios.

A justificativa do banco é que ele não tem garantias suficientes. Bernardo faz parte do grupo cada vez maior de micros e pequenos empresários que enfrenta dificuldade de acesso a crédito. Pesquisa realizada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo (Simpi) aponta que 46% dos empresários pesquisados tiveram dificuldade de crédito em abril, maior índice registrado desde o início da apuração, em outubro de 2013.

A dificuldade é sentida principalmente por aqueles que recorrem às linhas de crédito pessoa jurídica (PJ), contratadas por apenas 37%. Já o volume de industriais que recorrem a empréstimo para pessoa física, com o intuito de aplicar em sua empresa atingiu, em abril, a marca de 40%. A pesquisa apontou também que 15% dos entrevistados utilizam o cheque especial como recurso de capital de giro ou forma de honrar compromissos.

Economista da Serasa Experian, Luiz Rabi confirma que houve desaceleração na oferta de crédito pelos grandes bancos aos pequenos e médios empresários no primeiro trimestre deste ano. Bradesco, Itaú-Unibanco, Santander e Banco do Brasil reduziram sua carteira de crédito de 44% no primeiro trimestre do ano passado, para 41% agora. “Isso comprova que os bancos adotaram sim uma tendência de diminuir a oferta para PMEs. Os bancos adotaram procedimentos mais rigorosos na análise de crédito, daí a dificuldade de acesso”, explica.

A explicação para esse endurecimento é simples: inadimplência. De acordo com dados da Serasa Experian, em 2011 houve um crescimento de 19% na negativação entre pessoas jurídicas. No ano seguinte, houve novo aumento, de 10%. “Por conta disso, desde 2013 os bancos se tornaram mais seletivos, o que resultou numa queda significativa da inadimplência: alta de apenas 2,4% no ano passado”, diz Rabi. “A maior parte dessa desaceleração se deve ao fato dos bancos terem se tornado mais cautelosos e rigorosos na concessão. Afinal, 90% da negativação de PJ é de micro e pequenas empresas”, afirma Rabi.

Como o banco é a única forma de acesso a crédito para esses empresários, eles acabam migrando para a conta de pessoa física, dado confirmado pela pesquisa do Simpi-SP: em abril, 15% dos empresários recorreram ao cheque especial como forma de crédito. “O que preocupa é que o maior rigor dos bancos para empréstimo de pessoa jurídica faz aumentar o porcentual de empresários que recorrem ao cheque especial. Em maio do ano passado eram 9%. Ou seja, em um ano houve um salto de seis pontos”, diz o presidente do Simpi-SP, Joseph Couri.

Consultor do Sebrae, João Carlos Natal afirma que a utilização do crédito pessoal pelos pequenos empresários só aumentam as dificuldades. “Muitos empresários usam a conta pessoal para se relacionar com o banco e isso é um erro pois quando busca um empréstimo para capital de giro, por exemplo, o banco recusa porque não há histórico financeiro daquela empresa”.

Ele explica que a falta de garantia real é outro impedimento. “A maioria dos empresários não sabe, por exemplo, que a máquina de cartões que os bancos oferecem pode ser usada como garantia, pois a partir dela o banco toma conhecimento de todo o giro da empresa e consegue fazer uma melhor análise do perfil da empresa”, diz Natal.

Segundo Natal, conforme melhora esse relacionamento com o banco, a instituição vai liberando mais serviços e aprovando limites de créditos com taxas mais atraentes a um negócio.

Desembolso às microempresas cresce no BNDES

Na contramão do que ocorre no mercado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aumentou o desembolso às microempresas. De acordo com os dados mais recentes, de abril, os empréstimos da instituição destinados a empreendimentos com esse perfil atingiram R$ 29,5 bilhões no acumulado de 12 meses.

O montante é 9% superior ao registrado no período anterior. O volume representa 15% da carteira de crédito do banco, bem acima dos 8% destinados às pequenas empresas, mesmo percentual destinado às médias. Reunidas, essas três categorias receberam R$ 61,2 bilhões em empréstimos do BNDES. Apenas as grandes companhias têm participação maior. Em 12 meses, elas tomaram emprestado R$123 bilhões, ou 64% dos desembolsos do banco, que atingiram R$ 194,8 bilhões no período.

Nos primeiros quatro meses do ano, as microempresas captaram R$ 9 bilhões no BNDES, mantendo a proporção de 15% na carteira de crédito do banco verificada nos dados de 12 meses. Somadas as operações com pequenas (R$ 4,97 bilhões) e médias (R$ 5 bilhões), as empresas menores representaram 32% dos desembolsos do banco.

A participação é um ponto percentual superior à verificada no acumulado de 12 meses. Em 2014 (até abril), a participação das grandes empresas ficou em 62%, recuando dois pontos em relação à participação nos 12 meses.

Fonte: Brasil Econômico

Disponível em: http://www.crcpr.org.br/new/content/noticias/anterior.php?id=2074

Comentário(s):

Notícias mais lidas