É muito trabalho, muita contribuição para pouco benefício.
Como
bem informou o Jornal da Cidade na edição de 1 de junho de 2014, o
brasileiro trabalhou 151 dias neste ano para pagar impostos. Apenas para
lembrar alguns: IR, IPTU, IPVA, ICMS. Benjamin Franklin – que viveu
entre 1706 e 1790 – nos alerta: “Nada mais certo neste mundo do que a
morte e os impostos”. O pagamento de tributos em si não se constitui na
problemática central na vida do contribuinte; o problema é o modo como o
Estado utiliza o volumoso montante de dinheiro arrecadado. Nesse
sentido, o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT)
mostra um dado pouco animador: “Entre os 30 países com cargas
tributárias altas, o Brasil é o menos devolve em serviços e
investimentos à sociedade”. Isso nos leva a pensar nos 151 dias idos
como se fosse um fardo de trabalho inútil.
Segundo um estudo
realizado pelo IBPT, há dez anos, ou seja, em 2004, o brasileiro
destinou 138 dias para pagar tributos. Na década de 1970 o número de
dias trabalhados era de 76. Na década de 1980 o número subiu para 77. Na
década seguinte passou para 102. Diante desses números, surge uma
pequena e singela indagação: a devolutiva em serviços e investimentos à
sociedade está, pelo menos, acompanhando a evolução do índice de
tributos arrecadados?
Qualquer contribuinte sabe que os serviços
públicos, na sua maioria, não são de boa qualidade. Isso é notável
principalmente nas áreas da saúde e da educação. Além da qualidade
inferior em relação aos serviços privados, em muitos casos, peca-se
também em termos de quantidade, pois nem sempre o Estado conseguir
atender certas demandas exigidas pela população.
Saúde: como se
sabe, há imenso número de contribuinte que são assinantes de planos
privados de saúde. Por quê? Resposta fácil: sabem, de antemão, que, em
muitos casos, não podem contar com SUS; que terão que enfrentar filas,
longas esperas, falta de médico – para citar alguns dos problemas mais
frequentes. Educação: o ensino básico oferecido pelas instituições
públicas, de um modo geral, – salvo exceções – não é de boa qualidade.
Professores mal remunerados, escolas pouco atrativas, alunos pouco
motivados quanto ao conhecimento.
É muito trabalho, muita
contribuição para pouco benefício. É isso que causa revolta em algumas
parcelas da sociedade. É isso que fundamenta manifestações com as
Jornadas de Junho.
Na mitologia grega temos o caso de Sísifo,
condenado pelos deuses a conduzir diariamente um rochedo até o cimo de
uma montanha, de onde a pedra caia, rolando montanha abaixo. No dia
seguinte, Sísifo retomava sua tarefa enfadonha e incessante. Albert
Camus, importante autor franco-argelino, ligado ao existencialismo
francês, ao refletir sobre o tal mito (na obra, O Mito de Sísifo, de
1942), comenta que os deuses ao condenar Sísifo, “(...) Tinham pensado,
com as suas razões, que não existe punição mais terrível do que o
trabalho inútil e sem esperança”.
Já que – retomando a frase de
Benjamin Franklin – não há nada mais certo na vida quanto a morte e os
impostos, esperamos que o índice de dias trabalhados para pagar tributos
aos cofres públicos não nos transforme em “sísifos”.
Por Gerson Vasconcelos Luz
Fonte: Jornal da Cidade de Bauru - SP
Disponível em: http://www.contabeis.com.br/noticias/17982/brasil-o-alto-indice-tributario-e-o-baixo-retorno-a-sociedade/
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