Saída do Simples representa um aumento médio de 30% na tributação, o que tem travado o surgimento de médios e grandes negócios
A
falta de uma política que apoie as empresas na transição do status de
pequenas para médias tem limitado o crescimento desses negócios. O
principal gargalo é tributário: hoje, a companhia que excede o limite de
faturamento do Simples, de R$ 3,6 milhões por ano, cai no mesmo sistema
de impostos das grandes empresas. Os especialistas batizaram esse
fenômeno de “síndrome de Peter Pan”, o personagem menino que não queria
crescer.
No ano passado, das 543 mil empresas paranaenses
enquadradas no Simples, apenas 0,17% deixaram o regime. A situação é a
mesma em todo o Brasil, onde menos de 1% das 8,2 milhões de empresas do
Simples foram desenquadradas, a maioria porque excedeu o limite do
faturamento. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e
Tributação (IBPT) mostra que o receio de partir para o regime normal de
tributação tem fundamento – 62% das empresas que saem do Simples ficam
inadimplentes em até dois anos após o desenquadramento.
A saída
do regime significa um aumento médio de 30% na carga tributária,
conforme estimativa do IBPT. No Simples são 20 faixas de tributação
diferentes que começam em 4% e vão até 23%. “As empresas não conseguem
repassar todo esse porcentual de uma hora para a outra, ou seja,
precisam absorver parte do custo. Além disso, assumem uma série de
outras obrigações acessórias”, afirma Othon de Andrade Filho, diretor de
Inteligência Contábil do IBPT. A opção das micro e pequenas por um
crescimento estagnado limita o aparecimento das empresas médias e
grandes, que representam apenas 15% do total do país.
Entraves
A
carga tributária é o principal motivo do não crescimento das empresas,
mas não é o único. O baixo nível de conhecimento e preparo dos
empresários para enfrentar a migração também é responsável pelo
insucesso das empresas na transição do Simples, afirma Enéas Moreira,
sócio de impostos da EY. “No Simples, o único documento contábil é o
livro caixa. Quando faz a transição, a empresa tem que optar pelo regime
de lucro presumido ou lucro real e o nível de complexidade aumenta
muito”.
As empresas que estão deixando o Simples tendem a focar
apenas no impacto da carga tributária do novo regime, mas se esquecem
que crescer é um processo complexo e doloroso para o qual é preciso
estar preparado, avalia o gerente de Atendimento Individual do Sebrae
Paraná, André Basso. “O crescimento é uma crise de delegação. O
empresário precisa aprender a delegar funções porque o tempo do
estrategista, o dono, é mais importante que a operação, que pode ser
terceirizada”, afirma.
O processo de crescimento gera várias
demandas não relacionadas apenas à questão tributária. Muito do
insucesso no novo regime, segundo Basso, é porque o dono tenta replicar o
mesmo modelo de gestão do negócio, quando é preciso desenvolver outros
métodos e competências para encarar a nova fase.
Zona cinza
Como
não há uma faixa de transição do Simples para o regime normal de
tributação, quando a empresa ultrapassa o limite de R$ 3,6 milhões,
acaba perdendo dinheiro por que o aumento do faturamento não ocorre na
mesma proporção da carga tributária. Por isso, algumas empresas planejam
a estagnação por um tempo até que o negócio ganhe corpo para sobreviver
ao que o gerente de Atendimento Individual do Sebrae-PR, André Basso,
chama de zona cinza. “O ideal seria que empresa fizesse esse
planejamento antes de atingir o limite do faturamento”, afirma.
Fonte: Gazeta do Povo
Disponível em: http://sescap-pr.org.br/25anos/index.php/noticias/post/alta-da-carga-tributaria-leva-empresas-a-evitar-crescimento
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