Passados alguns meses – poucos, é verdade -, os brasileiros estão procurando indícios, sinais, resultados concretos, por menor que sejam, de que as manifestações populares de junho não foram em vão; não foram apenas o acordar de uma nação, depois de longa noite de sono, mas o começo de uma nova era de grandes realizações, mudanças.
Não faz mais sentido discutir as causas da insatisfação generalizada. Elas foram esfregadas na cara dos governantes, legisladores, todos os personagens, enfim, que possuem responsabilidades perante a sociedade de propor ações e políticas de desenvolvimento e melhoria de vida nas cidades, nos campos, em todas as regiões do país.
É de um cinismo inominável a explicação do governo federal de que tudo aconteceu porque temos liberdade, diferentemente do período ditatorial em que o direito de expressão tinha sido cassado, reclamar era terminantemente proibido.
Reconhecemos que a liberdade foi uma das grandes conquistas do Brasil desenhado pela Constituição de 1988. Mas ninguém sai às ruas gritando e erguendo cartazes só porque pode fazê-lo, a não ser em caso de demência grave.
Afastada a hipótese de uma loucura coletiva, cabe avivar a memória dos nossos representantes nas câmaras municipais, no Congresso Nacional, nas sedes de governo federal, estaduais e municipais e em todos os órgãos dos quais emanam decisões que afetam a vida social.
Os protestos aconteceram e continuam pipocando aqui e acolá porque os brasileiros estão descontentes com a forma como o país vem sendo conduzido, por causa do pífio crescimento econômico, o retorno da inflação, a pesada carga tributária que obriga um trabalhador a entregar meses do seu salário ao fisco, o caríssimo custo de vida em parte por causa de serviços públicos – além do transporte coletivo, energia, água – e de serviços privatizados como o pedágio das rodovias; por causa das escolas públicas e hospitais de má qualidade, a falta de investimentos em infraestrutura propulsora de desenvolvimento (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos) enquanto recursos à vontade estão sendo gastos em obras festivas (estádios), pela irresponsabilidade no uso dos recursos públicos, a impunidade a escândalos de corrupção, a relutância em reformar um sistema político que fez do poder um território de negociações para atender interesses de grupos partidários...
Os alvos das passeatas de junho talvez pensem que vamos nos contentar com alguns agrados, como corte no preço de tarifas de transporte coletivo, derrubada da PEC 37, entre outros que podem ser assimilados como conquistas. Não; medidas pontuais e promessas podem acalmar os ânimos apenas momentaneamente. O Brasil que queremos requer mudanças amplas e profundas que, claro, demandam tempo e recursos; mas se não forem desencadeadas de acordo com as expectativas, em futuro não muito distante, as ruas poderão ser palco de ondas de indignação ainda mais contundentes.
Fonte: CRC PR


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